INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste em uma revisão teórica à cerca da sobrecarga familiar no âmbito da dependência do álcool. Durante várias décadas o tratamento psiquiátrico, inclusive para o alcoolismo, foi caracterizado por longos períodos de internação e consequente afastamento do doente mental de sua família (Waidman, Jouclas e Stefanelli, 1999). Este quadro começou a mudar somente a partir de 1950, quando os serviços psiquiátricos da Europa e dos Estados Unidos iniciaram um processo de modernização com a finalidade de reduzir o número de internações em hospitais psiquiátricos, de prover um tratamento psiquiátrico com bases menos restritivas e custos mais reduzidos.
Houve uma mudança na forma de tratar o doente mental e sua família, os serviços prestados pelos hospitais psiquiátricos, com longas internações, passaram a ser realizados pelos serviços comunitários de saúde mental, com atendimento ambulatorial e, quando necessário, períodos curtos de internação. Essa mudança foi chamada de DESINSTITUCIONALIZAÇÃO, onde prioriza a reinserção social e a promoção de qualidade de vida dos pacientes, mudando assim a concepção das famílias em relação aos usuários que contribuem para uma mudança positiva em relação ao tratamento, que até 1980 no Brasil as famílias eram radicalmente banidas do tratamento do usuário, as visitas eram proibidas e ainda eram acusados de causadores da doença.
A partir da Reforma Psiquiátrica no Brasil que esse quadro começou a mudar e as famílias começaram a fazer parte do tratamento, a contribuir com a assistência aos usuários, mas essas famílias não estavam preparadas para esse processo de Desinstitucionalização e tiveram grandes dificuldades em lidar com essa situação. Diante desse quadro, várias pesquisas têm ressaltado a importância da implementação de serviços que garantem suporte, assistência e orientação aos familiares como temos em Santarém o CAPS II AD e o Grupo AL-ANON onde no decorrer do trabalho será detalhado exatamente como a equipe trabalha com as famílias dos usuários.
Sobrecarga de familiares de alcoolistas: uma revisão teórica
Estudos sobre a sobrecarga sentida por familiares de pacientes diagnosticados com alcoolismo não foram encontrados. Segundo Silva (2003) embora o alcoolismo seja reconhecido na área da saúde como uma doença, a saúde da família que convive com o alcoolista é geralmente ignorada, uma vez que é vista apenas como mera coadjuvante do tratamento. Segundo a autora, a assistência fundamentada num modelo que privilegia a pessoa alcoolista, esquecendo-se das outras que também sofrem ao redor, contribui, de forma decisiva, para que no futuro os próprios familiares possam se tornar pacientes deste modelo de assistência.
Um estudo realizado com as esposas de portadores da Síndrome de Dependência do Álcool apontou a presença de um alto índice de stress patológico na maioria das mulheres. A pesquisa indica que as fases de stress em que a maioria das esposas se encontrou, justifica uma preocupação, não apenas com o estado de saúde, física e psíquica dessas esposas, mas também com as repercussões do stress em todo o ambiente familiar principalmente sobre os filhos (Lima, Amazonas e Motta, 2007).
A sobrecarga é definida com as consequências negativas resultantes especificamente do papel de cuidador, que podem atingir várias dimensões da vida, como saúde, lazer, trabalho, bem-estar físico e psicológico, e seus relacionamentos (Maurin e Boyd, 1990). Por envolver consequências concretas e emocionais, o conceito de sobrecarga foi diferenciado em duas dimensões: o aspecto objetivo e o aspecto subjetivo da sobrecarga.
O aspecto objetivo se refere ás consequências negativas e observáveis resultantes do papel de cuidador de um paciente psiquiátrico. A sobrecarga subjetiva envolve a percepção ou avaliação pessoal do familiar de sua situação e seus sentimentos em relação às responsabilidades originadas da tarefa de cuidar do paciente.
Diante desse quadro, várias pesquisas têm ressaltado a importância da implementação de serviços, que garantam suporte, assistência e orientação aos familiares (Waidman et. al., 1990; Pereira e Pereira Jr., 2003; Moreno e Alencastre, 2003; Moreno e Alencastre, 2003; Yacubian e Neto, 2001; Barroso, 2006). Segundo Pereira e Pereira JR. (2003), as famílias dos pacientes demandam escuta, acolhimento e ajuda para amenizar as dificuldades encontradas no convívio com a doença mental. Informações sobre a doença e sobre o tratamento podem melhorar a estabilidade emocional dentro da família, enquanto que, a falta de orientação pode gerar conflitos entre o paciente e a dinâmica familiar, refletindo negativamente sobre o processo terapêutico, acarretando aumento da sobrecarga familiar.
A orientação dos familiares sobre os sintomas, curso e tratamento da doença é fundamental para que eles se tornem capazes de monitorar as manifestações da doença e de avaliar a eficácia da terapêutica. Somente assim, esses familiares se tornarão menos dependentes do monitoramento profissional, havendo uma diminuição dos custos e da sobrecarga, tanto para os familiares, quanto para os serviços de saúde mental (Yacubian e Neto, 2001).
Com a desintitucionalização psiquiátrica houve uma mudança na forma de tratar o doente mental e sua familia. Os serviços prestados pelos hospitais psiquiátricos, com longas internações, passaram a ser realizados pelos serviços comunitários de saúde mental, com atendimentos ambulatorial e, quando necessário, períodos curtos de internação. O tratamento oferecido por estes serviços passou a priorizar a reinserção social e a promoção da qualidade de vida dos pacientes (Bandeira, Lesage e Morissete, 1994; Bandeira, Gelinas e Lesage, 1998; Lougon, 2006).
Esses serviços são oferecidos pelo Caps II AD e AL-Anon, cujos objetivos e a troca de experiências. O AL-Anon é uma sociedade de fortalecimento de conforto e controle, já o Caps II AD trabalha com grupos de auto-ajuda e multiajuda e terapia ocupacional.
Esposas de alcoolistas relatam que sofreram agressões físicas e constantemente consideravam a separação como forma de solução do problema. Os familiares também relatam preocupação com as repercussões do alcoolismos na vida dos filhos, principalmente quando eles eram menores de idade (crianças com dificuldades na fala, de aprendizagem e relacionamento). Os filhos, por sua vez, se afastavam dos pais alcoolistas por medo e vergonha, devido a atitudes constrangedoras e imorais dos pais, como o roubo de dinheiro para o consumo de bebida.
As famílias também demonstravam pouco conhecimento sobre o alcoolismo, desconhecendo conceitos importantes para a compreensão deste problema de saúde e do seu tratamento, o que aponta para a necessidade dos serviços de saúde oferecerem maior apoio e informação para esses familiares.
Atualmente, as Políticas Públicas de diversos países em que vem avançando o processo de desintitucionalização, têm feito tentativas para garantir uma convivência saudável entre familiares e pacientes, como a criação de residências terapêuticas que proporcionam uma reaproximação gradativa entre o familiar e o paciente, e não a imposição da presença do paciente. No entanto, no Brasil ainda não existe um enfretamento desta questão (Moreno e Alencastre, 2003). Em algumas famílias a convivência com o paciente psiquiátrico é tão difícil que acaba acarretando sucessivas reinternações do paciente. Neste contexto, é inegável a sobrecarga que a volta do paciente para casa acarreta ao núcleo familiar (Moreno e Alencastre, 2003). Esta sobrecarga é ainda maior devido à falta de um apoio eficiente dos serviços de saúde mental e dos profissionais da área. Mesmo com as modificações que vêm ocorrendo na assistência psiquiátrica nas ultimas décadas, ainda são poucos os serviços de saúde mental no Brasil que, além de tratarem o doente, também oferecerem às famílias o apoio e o cuidado necessários. Na maioria das vezes, o papel destinado aos cuidadores ainda é o de agente custodial, e não de aliado do tratamento (Yacubian e Neto, 2001; Waidman et al., 1999).
REFERÊNCIAS
v W. BILL, AA . Atinge a Maioridade, 3º ed., 1991 - São Paulo/ SP. Editora CLAAB
v W. BILI, Os Doze Passos, 3º ed., 1999 – São Paulo/ SP. Editora CLAAB
v Revisão Decisão, 2º ed., 2000 – Tauí/ SP. Casa Publicadora Brasileira.
v CAPs II AD
v AL-NON
Andressa B. Panassollo
Érica Cardoso
Glória Fernanda
Jailly Vasconcelos
Katiane Soares