1-A origem dos contos de fadas:
Cerve (2006, p.10) em sua pesquisa de conclusão de curso afirma que, falamos muito nos contos de fadas, porem pouco ou quase nada falamos como surgiram e por que surgiram. Não falamos da sua origem, de quando começaram a ser contados para as crianças. O que todo mundo sabe é que “ no tempo de minha avo eles já existiam”. E como temos o estranho hábito e comum hábito de esquecer nossas origens, eles parecem ter existido desde sempre. Portanto como e por que eles nasceram?
Desde já podemos antecipar que algo é certo; não podemos tomar o conto como algo atemporal, como se sempre desempenhasse a mesma função para um público similar, obedecendo a sentidos padronizados, enquanto histórias nasceram e morreram, os contos de fadas parecem desafiar o tempo, atravessando dezenas de séculos e várias formas de organização social, atingindo durante o seu percurso diferentes públicos
Diante dessa afirmação, corso e corso (2006, p.25) nos auxiliam na medida em que também afirmam que na sua origem não serviram a uma parcela restrita de pessoas; eles nasceram para todos. “durante séculos, faziam parte dos momentos coletivos, em que um bom contados de histórias emocionava a sua platéia, incluindo gene de todas as idades”. Com o passar do tempo essas formas de narrativas mágicas foram sendo empurradas para o domínio infantil.
De acordo com coelho (1987), os primeiros registros dos contos de fadas datam de 4.000 a.c, feitos pelos egípcios, com o “Livro Mágico”. Na seqüência, apareceram na índia, palestina (velho testamento), Grécia clássica, sendo o império romano o principal divulgador das histórias mágicas do oriente para o ocidente. A materialidade sensorial do oriente, com a luxuria da Arábia, Persa Ira e Turquia, se contrapunha a cultura dos celtas e bretões no ocidente, cheia de magia e espiritualidade.
O registro material dos contos de fadas começou no século VII, segundo coelho (1987), com a transcrição do poema épico anglo-saxão beowuulf. As fadas aparecem no século LX, no livro de escrita galessa denominado mabinogion. Nele não só surgem as fadas, como a transformação das aventuras reais que deram origem ao Ciclo Arthuriano.
No século XLL, mais precisamente em 1155, o Romance de Brut de Wace retomam as aventuras lendárias do Rei Arthur e seus cavaleiros. Neste mesmo século, os Lais de Marie de France, gênero de poema narrativo ou lírico, que continha temas das novelas de cavalaria do ciclo do Rei Arthur, divulgava a cultura céltico-bretã pelas cortes da Europa e sua ab-sorvição pelo cristianismo (coelho,1987).
Na Idade Média, nesse lastro pagão choca-se, funde-se ou deixou-se absorver pela nova visão de mundo gerada pelo espiritualismo cristão e, transformado, chega ao renascimento. Na era clássica, os contos, que tinham um profundo sentido de verdade humana, foram perdendo o seu verdadeiro significado e, com simples “envoltório” colorido e estranho, transformo-se nos contos maravilhosos infantis (coelho,1987 p.15).
No século XIV é que surge na Europa, segundo Bettelheim (1980), a primeira coleção de contos com motivos do folclore europeu denominado “Gesta Romanorum”, de origem persa, escrito em latim, procedendo a famosa coleção “As Mil e Uma Noites” do folclore árabe.
No século XVI, de acordo com coelho (1980), surge “Noites Prazerosas” de Straparolo e “O Conto dos Contos” de Basile.no fim deste e início do século XVII, a fantasia, o imaginário. Nesta época destaca-se Mme.D’Aulnoy com “Contos de Fadas”, “Novos Contos de Fadas” e “ Ilustre Fadas”.
Segundo coelho (1987), no início, os contos de fadas não eram uma literatura para crianças. O início dessa transformação teria se dado com Perrult, no século XVII, na França; com os irmãos Grim no século XVIII, na Alemanha ;com Andersen no século XIX, na Dinamarca; com Walt Disney no século XX, na América. Mas para Cashdan (2000), a transformação dos contos de fadas em literatura infantil teria ocorrida no século XIX, nos países de língua inglesa, pelo trabalho de vendedores ambulantes, que viajavam por diversos povoados vendendo pequenos volumes baratos. Continham as histórias simplificadas do folclore e dos contos de fadas, sem passagens fortes , sendo de fácil leitura.
Foi com Vladimir Prropp, o estruturalista russo e um dos expoentes da narratologia, que se deu um dos primeiros estudos científicos relevantes dos contos, em 1920, conforme Pavoni (1989), a partir dos estudos nos quais se propôs a analisar estruturalmente cem narrativa dos contos populares da época , chegando a conclusão de que se todas as histórias tinham a mesma seqüência de ações ou funções narrativas, e a questão de que, apesar da diversidade de temas e versões todas poderiam ter uma origem comum
Segundo coelho (1987), Propp formulou uma estrutura básica para os contos de fadas, envolvendo início, ruptura, confronto e superação de obstáculos e perigos, restauração e desfecho, é o retorno a realidade, com a união dos opostos, iniciando o processo de crescimento e desenvolvimento.
Coelho também afirma que a fantasia básica dos contos de fadas expressa os obstáculos ou provas que precisam ser vencidos, como o verdadeiro ritual iniciatico, para que o herói alcance sua auto-realização, partem de um problema vinculado a realidade e seu desenvolvimento em busca de soluções, no plano da fantasia, com a introdução de elementos mágicos. A restauração da ordem acontece no desfecho da narrativa, quando há uma volta ao real.
De acordo com coelho (1987) os contos de fadas tratam da realização interior ou existencial do herói. Os contos de fadas de origem celta, na qual a etimologia da palavra vem do latim fatum, que significa destino, fatalidade. Ela caracteriza o conto de fadas.
[...] com ou sem a presença de fadas ( mas sempre com o maravilhoso), seus argumentos desenvolvem-se dentro da magia feérica ( reis, rainha, príncipes , princesas,fadas,gênios,bruxas, gigantes,anões,objetos mágicos,metamorfose,tempo e espaço fora da realidade conhecida etc.) e tem como eixo gerador uma problemática existencial. Ou melhor tem como realização que ,via de regra esta visceralmente ligado a união homem-mulher(coelho,1987,p.14)
Gillig (1999) chama os contos de fadas de maravilhosos pelo predomínio não de fadas, mas de situações maravilhosas nos contos. O maravilhoso, essencial para o equilíbrio da razão, é o próprio uso que fazemos do imaginário e diz respeito a magia ou intervenção divina, dividindo-se em três funções: fantasmagórica: através da realização do herói, trabalhando com sua realidade psíquica, traduz de maneira simbólica as aspirações do homem; estética: quando é vista também como uma obra de arte , patrimônio cultural da humanidade apresentando a relação homem versos natureza e sua visão de mundo;encantamento: referencia ao estado de êxtase a partir da narrativa, onde se passa do cotidiano trivial para o universo do conto.
2- A influencia dos contos de fadas no desenvolvimento infantil.
A literatura infantil e, principalmente, os contos de fadas podem ser decisivos para a formação da criança em relação a si mesma e ao mundo à sua volta. O maniqueísmo que divide as (os) personagens em boas (bons) e (ou) más, belas (belos) ou feias (feios), poderosas (poderosos) ou fracas (fracos), etc., facilita a compreensão da criança acerca de certos valores básicos da conduta humana ou convívio social.
De acordo com Chauí (1984) os contos são interessantes, porque são ambíguos. Por um lado, possuem um aspecto lúdico e libertador ao deixarem vir a tona desejos, fantasias, manifestações da sexualidade infantil, oferecendo recursos para lidar com eles no imaginário; por outro lado, possuem um aspecto pedagógico que reforça os padrões da repressão sexual vigente, uma vez que orientam a criança para desejos apresentados como permitidos ou lícitos, narram as punições a que estão sujeitos os transgressores e prescrevem o momento em que a sexualidade genital deve ser aceita , qual sua forma correta ou normal.
Para que uma estória realmente prenda a atenção de uma criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a ima Gina cão; ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam.(Bettelheim,1980,p.13)
Neste momento encontramos a possibilidade de estabelecer relações relevantes e fecundas entre os contos de fadas e a influencia que pode exercer na formação do psiquismo da criança. Para Abramovich (1989), os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso universo da fantasia ; partindo sempre de uma situação real, concreta, veiculando emoções que qualquer criança já viveu ou poderá vir a viver. Os contos de fadas acontecem em um lugar que é apenas esboçado, mas um lugar qualquer um pode caminhar. As intrigas conduzem-nos a uma realidade familiar, no duplo sentido do termo, realidade íntima e, ao mesmo tempo, centrada na família e em seus conflitos. Os personagens são simples e são colocados diante das situações diferentes, em que tem que buscar e encontrar respostas de importância fundamental. Deparam-se com dificuldades graves, com situações de opressão inesperadas ou injustas, a que devem reagir. Nesse sentido, os contos da fadas chamam a criança a percorrer caminhos arriscados, a vencer obstáculos, a achar uma resposta para um conflitem busca de serenidade. Em síntese, os contos de fadas a criança a cumprir o ciclo de “provação e superação de um problema” em busca de amadurecimento. Todo esse processo é vivido por meio da fantasia do imaginário, com a intervenção de entidades fantásticas.
Os contos de fadas matem uma estrutura fixa. Partem de um problema vinculado a realidade, que desequilibra a tranqüilidade inicial. O desenvolvimento é a busca de soluções, no plano da fantasia, com a introdução de elementos mágicos. A restauração da ordem acontece no desfecho da narrativa, quando há uma revolta ao real. Valendo-se desta estrutura, os autores, de um lado, demonstram que aceitam o potencial imaginativo infantil, de outro , transmitem a criança a idéia de que ela não pode viver indefinidamente no mundo da fantasia, sendo necessário assumir o real, no momento certo(AUIAR aud Abramovich,1989,p.120)
A cada passo nos deparamos com a evidência da importância do conto de fadas na vida criança, pois “o imaginário infantil abastece-se de historias, traços de personalidade de personagens e cenários provenientes da ficção, que são utilizados conjuntamente como bonecas, carrinhos, bichos de pelúcia ou super herói de plástico” (corso e corso, 2006p.178) estes são elementos disponíveis para uma combinação que serás o instrumento de elaboração da criança.
Nesse sentido, Bettelhei tem razão quando afirma que “a criança necessita muito particularmente que lhe sejam dadas sugestões em forma simbólica sobre a forma como ela pode lidar com estas questões e crescer a salvo para a maturidade”(1980,p.14-5)
Os contos ainda influenciam no processo do desenvolvimento desenvolvimento das crianças, favorecendo o resgate de valores como, por exemplo o respeito ao ser humano.
A escola tem por finalidade ensinar os conteúdos solicitados no currículo escolar, mas também deve ter a preocupação de realizar um trabalho voltado para a construção da moralidade a partir da discussão das atitudes das crianças, preparando-as para lidar com diversas situações em seu cotidiano.
Acredita-se que, em especial na Educação Infantil, as histórias devem fazer parte da rotina do planejamento do educador, pois é recurso pedagógico fundamental que trabalhado de forma adequada, ajuda as crianças a resolverem as situações encontradas. Oliveira (1994; p.46) defende que os contos facilitam a compreensão das características humanas e a convivência social.
. 3- As diferenças entre os contos tradicionais dos contos de fadas e os contos contemporâneos apresentados na educação formal.
No conjunto da literatura infantil, com raras exceções, nenhum gênero é tão enriquecedor e satisfatório para a criança do que os contos de fadas . Eles tratam de sentimentos universais – anseios, temores, ressentimentos-; a partir deles o ser humano e particularmente, a criança podem lidar com problemas interiores e aprendem a buscar e encontrar soluções para os conflitos por intermédio da linguagem literária. Segundo Schiller, poeta alemão (séculos XVIII-XIX) há mais significado nos contos que lhe contaram durante a infância do que na verdade que a vida ensina.
Bettelheim (1980) afirma que os contos de fadas, melhor do que qualquer outra historia infantil ensina a lidar com os problemas interiores e achar soluções certas em qualquer sociedade em que se estejam inseridas. A criança, como ser participante e atuante da sociedade, aprendera a enfrentar e aceitar sua condição desde que seus recursos interiores lhe permitam.
Para dominar os problemas psicológicos do crescimento- superar decepções narcisisticas , dilemas edípicos ,rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis: obter um sentimento de individualidade e de autovalorizaçao e um sentido de obrigação moral- a criança necessita entender o que esta se passando dentro de seu inconsciente . Ela pode atingir essa compreensão, com isto a habilidade de lidar com as coisas não através da compreensão racional da natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas familiarizando-se com este através de devaneios prolongados – ruminando ,reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da estória em resposta a pressões inconscientes as fantasias conscientes, o que a capacita de lidar com este conteúdo (BETTELHEIM, 1980,P. 16)
Entretanto, é preciso que as crianças se envolvam na história, permitindo o resgate de verdadeiros significados, podendo se identificar com os personagens, a fim de compreenderem que nem sempre as pessoas e/ou situações são agradáveis. Para isso, é fundamental que o educador, pais selecionem temas que oportunizem uma discussão moral na sala de aula, além de usar a criatividade e o interesse para realizar essa atividade.
Bettelheim (2000) assinala que as crianças, através da utilização dos contos de fadas, aprendem sobre problemas particulares dos seres humanos e sobre suas soluções. É também através deles que a herança cultural é comunicada às crianças, contribuindo para a sua educação moral.
Porem, os contos encontram muitas barreiras para atingir o seu objetivo mais completo. Segundo Bettelheim (1980), prevalece a crença dos pais que a criança deve ser exposta somente o lado agradável da vida. Devendo permanecer em sua realidade consciente e supostamente controlável, não é permitido a criança entrar em contato com sua ansiedade- que é tamanha, a ponto de não conseguir definir e nem quantificar- nem fantasias raivosas e caóticas que apresentam. E desconcertante para um pai reconhecer essas emoções no filho, por isso tende muitas vezes a passar por cima delas.
Por isso a literatura atual nega os conflitos internos e as emoções violentas originadas nos impulsos primitivos , bem como suprime passagens que exprimem esses conflitos dos principais contos de fadas.
Mas a criança esta sujeita a sentimentos desesperados de solidão e isolamento, e com freqüência experimenta uma ansiedade mortal. Na maioria das vezes, ela é incapaz de expressar estes sentimentos em palavras, ou uso pode fazê-lo indiretamente: medo do escuro, de algum animal, ansiedade acerca do seu corpo (Betttelheim,1980,p.18).
O conto de fadas não ignora essas ansiedades e dilemas existenciais , tais como a necessidades de ser amado , o medo de não ter valor, o amor pela vida e o medo da morte, encarando-as diretamente, oferecendo soluções de modos que a criança aprender no seu nível de compreensão.
Bettelheim (1980) explica que, quando as histórias que as crianças escutam ou lêem são vazias, elas não tem acesso a um significado mais profundo de revelações e de experiências e não depende nada realmente significativo que possa ajudá-la nas etapas de seu desenvolvimento.
Pela correria do dia a dia os pais não encontram mais tempo para contar estória para seu filhos, fica então a responsabilidade das escolar proporcionarem as crianças esse momento tão importante “a hora do conto”
É essencial que a escola explore todo os contos de fadas, proporcionando preferências nas crianças e assim possa desenvolver um trabalho produtivo e, sobretudo, ético. Para isso, o educador deve utilizar esse gênero de modo consciente, facilitando e mediando o desenvolvimento de suas crianças.
Pesquisas como de Dias (2005) enfatizam que o trabalho com as histórias infantis destacam vários benefícios para o desenvolvimento das crianças pequenas. Como exemplos, podem ser citados: a elaboração de conceitos, a resolução de conflitos, o desenvolvimento da imaginação e criatividade, entre outros.
A Literatura Infantil possibilita às crianças uma leitura em vários níveis: o sensorial, através dos aspectos exteriores do livro; o emocional, pelos sentimentos que a leitura provoca e o racional, pela reflexão a que conduz e pela construção do conhecimento.
Segundo Zilberman (2003, p.29), "A Literatura Infantil é levada a realizar sua função formadora, que não se confunde com uma função pedagógica. Ela dá conta de uma tarefa que está voltada toda a cultura de conhecimento do mundo e do ser”.
Ao ouvir histórias, as crianças pequenas iniciam o processo da construção da linguagem, idéias, valores e sentimentos, ajudando-as na sua formação como pessoa.
Nesta perspectiva, aponta Abramovick (2004, p.17): As histórias infantis representam importantes formas de expressão, além de contribuir na construção do desenvolvimento moral, ajudando-a a criança a conhecer o mundo e tomarem consciência dos seus próprios valores.
É fundamental que, ao contar uma história, o educador crie condições para que as crianças progridam na construção do raciocínio moral, da coordenação dos diferentes pontos de vista e do pensamento lógico, podendo valer-se da Literatura Infantil para desencadear discussões nas quais as crianças poderão rever suas opiniões e defender a sua perspectiva.
De acordo com Kramer (2000) a pré-escola é um lugar que propicia o desenvolvimento infantil, visto que valoriza o conhecimento das crianças pequenas, a construção da autonomia, cooperação, criticidade, responsabilidade e favorece o auto conceito e, o exercício da cidadania.
O individuo se desenvolve a partir de sua interação com o ambiente, portanto é preciso que o educador e a escola se insiram para promover o desenvolvimento moral e o crescimento humano em direção à autonomia, pois é nessa primeira fase escolar que a criança necessita de uma aprendizagem de qualidade levando em conta que, até os dias de hoje os contos encantam todas as gerações. “Os tempos mudam incessantemente, porém a natureza humana permanece a mesma” (COELHO, 2000).
Este gênero é tradicionalmente usado na prática escolar, mas cabe ao educador usá-lo a fim de favorecer o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil. O gênero é de fácil compreensão, pois traz uma linguagem simples e direta, além de permitir a memorização das crianças por meio dos nomes dos personagens, que serão eternamente lembrados por elas, por serem nomes mágicos e outra característica é a presença de palavras mágicas que formam uma imagem visual, que aguçam a imaginação das crianças pequenas. A metamorfose das personagens, a magia, o encanto, o uso de talismãs e a força do destino são também constantes neste gênero.
Os Contos de Fadas clássicos são os mais exuberantes e conhecidos que passam de geração para geração. Esses contos também apresentam a mesma narrativa, o herói ou heroína passam por dificuldades antes de triunfar contra o mal e até o tão esperado final feliz. Os personagens são marcados por suas qualidades físicas ou morais que são bem nítidas e facilitam a compreensão da história para as crianças.
As histórias falam de moralidade e de virtude como parte central da natureza humana, não como algo para se ter, mas para ser, a coisa mais importante que se pode ser. Através da leitura dos Contos de Fadas pode-se colocar a imaginação das crianças pequenas, em tempo e espaço indeterminados, onde há a presença das expressões do tipo: “era uma vez”, “há muito tempo”, “num certo dia” e “num lugar distante”.
Essas histórias, ainda, ajudam o educador entender o desenvolvimento da moralidade infantil, dando oportunidade para que as crianças entrem num mundo de princípios e virtudes, ajudando-as a compreender algumas qualidades essenciais à formação ética de cidadãos.
São vários os valores apresentados nessas histórias e que são necessários para a formação moral de qualquer indivíduo, ou seja, neles encontramos valores essenciais para a convivência humana. Compreende-se que não nascemos com esta visão moralista, é preciso aprendê-la. Pode-se aprender e apreciar esta visão por meio das histórias.
Com isso, é possível visualizar que o trabalho com os Contos de Fadas pode favorecer o desenvolvimento das crianças se os professores estiverem preparados e, principalmente se o compreendem e utilizam procedimentos educativos mais adequados.
Os contos de fadas são livros eternos que encantam as crianças e podem ser apresentados de diversas maneiras, de acordo com a criatividade e disponibilidade de cada educador para realizar essa atividade. É fundamental que o educador utilize várias formas de leitura para que as crianças se envolvam com esse momento que é tão importante para seu desenvolvimento. O educador pode utilizar, além da leitura oral, as gravuras e dramatizações com fantoches. Dependendo da faixa etária, é possível apresentar o início e o meio das histórias, deixando-as imaginarem o final. Dessa maneira, a criança estará desenvolvendo sua criatividade, despertando a curiosidade, expressando sentimentos, desenvolvendo o raciocínio e trabalhando a memória.
O educador pode trabalhar com as histórias infantis, de maneira que as crianças ampliem sua imaginação e compreensão do mundo, tornando-se uma atividade pedagógica prazerosa, interessante, criativa e muito atraente. Para Bettlheim (1979) as histórias não devem ser jogadas de qualquer maneira para as crianças. É necessário um preparo, um contexto e, principalmente tempo para que a criança “absorva” a história.
O contar história deve ser uma atividade prática, diária e constante na sala de aula, acompanhada de algumas estratégias e técnicas para prender a atenção das crianças, fazendo com que a atividade seja bem mais proveitosa. Ainda nesse processo de contar história, existe outra característica muito importante, a conversa com as crianças antes de começar a contar, evitando as interrupções. Essa conversa não deve ser longa, só o tempo necessário para que as mesmas se predisponham a escutar a história.
Antes de tudo, é fundamental que o educador ao recontar a história ou algum trecho que não ficou claro para as crianças, não faça nenhuma mudança no enredo, por menor que seja, pois a criança pode cobrá-lo de que omitiu ou esqueceu algum detalhe..Os contos de fadas giram em torno de elementos que facilitam a imaginação e a memorização das crianças. “Era uma vez...”; fadas madrinhas; reis e rainhas; heróis, entre outros personagens com nomes ou apelidos.
"Brincando com a fantasia a criança constrói uma ponte no tempo, repetindo o passado, vivendo o presente e projetando o futuro, transitando entre o mundo inconsciente e a realidade, pois fantasia e realidades se complementam” (EMERIQUE, 2003, p. 18).
De acordo com Piffer (2008) o conto promove o desenvolvimento da criança, motivando-a a ser generosa e solidária, fazendo-a compreender que nem sempre as pessoas são boas e que nem sempre as situações são agradáveis. Por conseqüência, desperta seu senso crítico, fazendo-a refletir entre o pensar e o agir, entre o certo e o errado.
A autora também ressalta que a essência do conto de fadas é abstrair conceitos formadores de caráter, uma vez que estabelece relação entre “bem e mal”, “certo e errado”. Seus valores são inúmeros: respeito, bondade, justiça, amizade, amor, franqueza, humildade, diferença, etc. A formação moral das crianças ocorre quando fazem uso da reflexão sobre os contos de fadas, distinguindo as atitudes das personagens e construindo as suas próprias, alicerçando sua formação moral.
Os contos de fadas apesar de apresentarem fatos do cotidiano as vezes de forma bem realista não se referem claramente ao mundo exterior, e o seu conteúdo poucas vezes se assemelha com a vida de seus ouvintes . sua natureza realista fala aos processos interiores do individuo (BETTLHEIM,1980)
Para Costa e Barganha (1989) a escola não e só responsável pela propagação de conhecimento,com pode subsidiar a formação de cada ser humano. Os contos podem ser importante instrumento pedagógico, por ajudar no processo de simbolização, ao mesmo tempo em que alivia as pressões inconscientes. “Nessa luta pela independência , a escola desempenha um papel muito importante por ser o primeiro ambiente que a criança encontra fora dela família os companheiros substituem seus irmãos, o professor o pai, e a professora a mãe” (JUNG,1981,P.59 apud SAIANI,2003,p.22)
4- Correlação da visão psicanalítica aos contos de fadas:
As histórias infantis sempre tiveram o poder de auxiliar as crianças a nomear e suportar conflitos básicos. Existem muitos estudos em psicanálise sobre as características que fizeram os contos de fadas atravessarem séculos mantendo intacto o seu poder de atração. Segundo os estudiosos dessa relação, como Bettelheim (1980), Corso e Corso (2006) e outros, a criança ao ler ou ouvir a história, faz um movimento de identificação com enredos, personagens e mesmo detalhes dos contos , que fazem eco aos seus próprios dramas inconscientes, e as suas próprias tramas familiares simbólicas.entre alguns estudiosos aqui citados talvez o mas conhecido seja o estudo de Bruno Bettelheim (1980), no qual o autor mostra, através da interpretação de vários contos, que as crianças identificam-se com as personagens , pois estas expressam ou personificam aspectos de seu dramas internos, sustentam tramas relacionados as suas fantasias.
O próprio Freud, em 1909, quando publica romances familiares, escreve que a criança muito cedo, tentando articular uma verdade obscura e insondável, encontra o recurso do mito para dar conta do que lhe é impossível apreender. A interconexão entre psicanálise e literatura já no foi indicada também quando Freud, utiliza peças dramáticas como Édipo- Rei, de Sófocles ou huamlet, de Shakespeare, para articular questões pertinentes ao sujeito e a cultura , mas existem muitos outros exemplos na obra freudiana da relevância da literatura .
Denominemos de premio de estimulo ou de prazer preliminar ao prazer desse gênero, que nos e oferecido para possibilitar a liberação de um prazer ainda maior , provenientes de fontes psíquicas mas profundas. Em minha opinião todo prazer estético que o escritor criativo nos proporciona e da mesma natureza desse prazer preliminar, a verdadeira satisfação que usufruímos de uma obra literária procede de uma libertação de tensões em nossas mentes(Freud,1996, V.IX, P.142).
Assim fica claro , então , que os contos em cena, através do imaginário, significantes que permitem a criança articular um saber sobre o que e a vida , a morte, o amor... um saber que rege a vida dos adultos.” Ou seja, ordenar com uma formula discursiva o que não pode ser transmitido na definição da verdade” (Tavares, 1998,p.105). Por ora , isso explica o fascínio que certas historinhas causam nas crianças. Certamente, esse é um dos motivos pelos quais as crianças, encantadas com determinada historia pede para ouvi-la varias vezes, mas sempre da mesma maneira, afim de poder realizar o enodamento de um significante com vistas a traçar uma borda necessária para que possam dar um posso adiante na cadeia significante.Neste sentido Mengarelli diz que:
O eu, sendo o palco das tensões conflituosas, e também o que voa, o que se deixa elevar nas aventuras nas aventuras da imaginação. O eu é imaginário. Entretanto algo atravessa e aquilo que entra em jogo na insistência das pulsões que fará do leitor não um sujeito . Ele pensa que Le , que ouve a história , mas em outra cena ele é que é lido, que é olhado e ouvido pelo conto. Ele é capturado, ele é contado. Implicações que se da de tal forma que não raro vemo-lo ressurgir em seus sonhos ou pesadelos , eventualmente nas brincadeiras, assumindo vozes, expressões ações dos personagens que dele tomam conta. Podemos dizer que o leitor, ao ser capturado é falado desde o conto. Ou seja, os contos o pescam na rede de significantes na qual ele é o peixe de seu próprio lago e também o pescador das águas da linguagem que neste ato, o banham. Ao estilo de que um significante representa um sujeito para outro significante, aqui podemos dizer que um personagem representa um sujeito para outro personagem (Mengarelliu,1998, p.68).
Anzieu (1997) diz ser importante observar que o conteúdo latente de uma obra literária é a fantasia , o que lhe garante um alcance geral. Sua forma é que existe de mais individual e divide-se em: estilo escolha, escolha do gênero e composição.
Uma obra literária sensibiliza-nos pelo fato de ser construída em torno de um complexo. Segundo Anzieu (1997), quanto mais infantil for a literatura ou quanto mais infantil for a narrativa, mais fantasiosa será ou parecerá. A fantasia pode ser considerada o organizador inconsciente das produções artísticas:
A fantasia é roteiro imaginário em que o sujeito esta presente e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos , a realização de um desejos, em ultima analise, de um desejo inconsciente(Laplanche, 2001, p.169)
Após muitos anos em que os contos de fadas são apurados e recontados , segundo Bettelheim (19980), propagam-se significados manifestos e encobertos, comunicando-se com a mente da criança e do adulto, simultaneamente. Eles transmitem mensagens a mente consciente, pré-conciente, e a inconsciente. Esses contos dirigem-se ao ego em formação, dando força ao seu desenvolvimento, acalmando as pressões pré-conscientes e inconscientes, ao mesmo tempo.
Segundo a psicanálise primordial a consciência racional e consciente se desenvolve a partir do sexto ano de vida da criança “...... até ai a criança vive em mundo mágico-mitologico, no qual, ao lado de uma consciência imaginativa” (Dieckmann,1986,p.44).
Tudo que para um adulto é natural e trival, de acordo com Dieckmann (1986), inicialmente foi descoberto e percebido pela criança. Pensando nessa experiência de uma existência infantil, vê-se o quanto o significado psicológico dos contos de fadas confirmam isso. A criança deve aprender a lidar com seus instintos e impulsos mais profundos, da natureza humana em geral, e deve afirmar seu ego contra essas forças. Inconscientes, os contos de fadas sob a forma de imagens simbólicas, possibilidades típicas e projetos, oferecem maneiras para que ela saia vitoriosa.
Se equiparmos o conto de fada a um drama dentro da alma, então todas as pessoas, ações, animais, lugares e símbolos que nele aparecem representam movimentos da alma, impulsos, atitudes, maneiras de viver e aspirar. O herói , isto e, a figura de identificação escolhida pela criança ouvinte- que tem a liberdade de se identificar com a personagem principal masculina ou feminina- ocupa então o lugar do complexo ego. A representação de uma experiência de tormentos e ate a morte, no decorrer de amadurecimento, acontece também ao herói ou heroína do conto de fadas (Dieckmann, 1986, p. 119)
O papel da literatura nessa realidade, e semelhante aquela a arte sempre exerceu através da historia: realizar a catarse dos sentimentos obturados das emoções para as quais não encontramos palavras, bem como colocar questões, problematizar a própria vida de fazer pensar. A literatura infantil é direcionada a geração, segundo a psicanálise, vem ao mudo carregando o compromisso de pagar a divida da geração anterior, a atenção sobre a literatura infantil permite que uns questionamentos éticos sejam passados as crianças sem que disso se faça uma moral explicita. Através do mundo encantado “era uma vez”, da trajetória do herói das historias contemporâneas, produz-se a identificação da criança com novas possibilidades de posicionamentos ético
Postado por: Vanusa F.Marques